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2 de agosto de 2019

Antes mal acompanhado do que só

Evidentemente que não estou falando do mau acompanhante que te leva ao inferno… Esse você vai evitar sempre! A ideia aqui é só não perder a promoção por mero capricho. E não é daquelas do tipo “tudo grátis por apenas 99,99 ao mês”. Aqui não tem nada grátis e você já sabe o preço que terá de arcar. O preço da paciência, da humildade, da mansidão, da honestidade (material e intelectual)… Somente mediante preços caros como esses é que você consegue um amigo, um conhecimento, um conselho, uma solução para um problema, uma luz no fim do túnel. É preciso baixar a guarda das vaidades e do orgulho! Não caia na conversa clichê (aliás, repense todos os clichês de sua vida: eles são, na maioria das vezes, uma m...) de que “ o ser humano é difícil e é mais fácil lidar com bichos!”. Ser humano, mesmo os mais chatos, são obras-primas de Deus, sempre úteis para ajustar um ou outro aspecto de imperfeição que há em você (e, a julgar por mim mesmo, o que não faltam são imperfeições). Você só precisa ter consciência de que, para tal, arcará com um preço, com um sacrifício, uma renúncia, uma dor... Já se você preferir os bichos, o único preço que pagará será em dinheiro e, em contrapartida, ele nada acrescentará à sua caminhada, a não ser a pequena alegria de vê-lo abanar o rabo (ou o cotoco do rabo, conforme o caso) ou, ainda, dada a inversão de valores... ficamos com aquela estranha sensação de que, por aqui, é o rabo que abana o cachorro.

Quem anda só é mosca varejeira (se estiver em bando, pode chamar de atacadista), o ser humano é chamado a aprender com o outro e a ajudar o outro (evitando torrar-lhe a paciência). Deus fez um quebra-cabeças e quer que a gente monte. Não existe nenhum ser autossuficiente, por mais que sua vocação seja a clausura e o silêncio, alguém lhe inspirou, alguém lhe dará os comandos, alguém, importunando-o inadvertidamente, lhe proporcionará as contrariedades que aperfeiçoarão sua alma, alguém será seu amigo(a). Você sempre terá, no mínimo, dois ou três alguéns a quem ser grato(a).

Curiosa e oportuna à reflexão de hoje é a história de santo Antão, que abandona tudo para viver no deserto. Evidentemente, muitos valores lhes foram entregues por outros que viveram antes dele, mas, de certo modo, ele inaugura um modo ímpar de vida (hoje, ao menos à maneira exata vivida pelo santo, em extinção). Contudo, Deus lhe reserva duas surpresas: a primeira é a de que quanto mais ele fosse íntimo de Deus e isolado do mundo, mais o mundo buscaria, sedento, seus conselhos e o isolamento jamais seria pleno. A segunda é a de que, caso uma mínima vaidade lhe surgisse no sentido de pensar-se o pioneiro no mundo a ter uma vida vivida no deserto, um certo Paulo de Tebas o desconcertaria, uma vez que lhe antecedeu em tal caminhada. Mas tampouco Paulo de Tebas teria do que se vangloriar, uma vez que sua ida para o deserto (anterior a Antão) não foi exatamente uma coisa espontânea, mas uma fuga da perseguição e da morte que se lhe apresentava como possibilidade real ante sua profissão de fé católica. Ou seja, um ao conversar com o outro (nessa situação de vida eremita) proporcionaram a retirada, em ambos, da mínima possibilidade que pudesse existir de vaidade, purificando-os ainda mais do que já haviam conseguido até então e dando a clara lição de que precisamos uns dos outros e todos de Deus, sem exceções nem mesmo entre eremitas. Não temos do que nos vangloriar e nem como caminharmos sozinhos nesse mundo. Uma peça de quebra-cabeças perdida e só uma sujeira que se varre e se joga no lixo.

Na paz de Jesus, no amor de Maria e, sempre, na companhia de todos vocês,
Jeansley de Sousa

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