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14 de novembro de 2019

Método eficiente de estudo e discernimento

Por que será que uma pessoa que nota, identifica e enxerga com clareza alguma burrada que outra tenha feito e, muitas vezes, até sai falando pelos cotovelos e expondo a cabeçada dada pelo próximo, não raro, dentro de pouco tempo, está ela própria a incorrer no mesmíssimo erro ou em outra burrada ainda mais grave? 


A falta de inteligência pouco tem a ver com a situação demonstrada no parágrafo acima. Afinal, excluídos aqueles que devido a alguma deficiência mental séria tenha comprometida por completo sua capacidade de abstração ou de memorização, em geral, as pessoas têm essas capacidades no mínimo, em grau suficiente para o convívio e a sobrevivência razoável e, portanto, aptas estão a notarem as relações de causa e consequência nos atos humanos. Ora, então por que incorrem em erros tão batidos e clássicos? Restam-nos duas possibilidades que já resumo para em seguida discorrer sobre cada uma delas: ou é falta de meditação, ou é falta de obediência à verdade! 

A inteligência é a nossa capacidade de abstração, isto é, a capacidade que temos de ao observar um caso concreto, ao passar por uma experiência, ao ler um livro, ao assistir uma aula… enfim, ao viver ou observar uma situação qualquer, compreendê-la de tal modo que desse caso concreto possamos retirar conceitos e informações que permanecerão em nossas mentes de maneira abstrata, utilizáveis em momentos semelhantes ou mesmo distintos (mas passíveis de mínima e indireta analogia) dos observados. Tais informações, valores e verdades apreendidas tornam-se entes inócuos se não devidamente ruminados. Hugo de São Vítor utiliza a expressão ruminar para fazer oportuna analogia ao procedimento que nosso cérebro faz com as informações por meio da meditação, semelhante ao animal que mastigando e engolindo repetidamente um mesmo alimento (ruminando-o) extrai dele o máximo de suas propriedades. É sobre essa tão necessária ruminação que nos dá o verdadeiro conhecimento, aquele conhecimento que permanece capaz de ser posto em prática em momento oportuno, que já bem nos alertara o Senhor ao citar-lhe a ausência crônica e grave: “Meu povo padece por falta de conhecimento!” (Os. 4, 6). 

Eu não saberia mensurar se a maioria das pessoas, atualmente, metem os pés pelas mãos mais por falta de meditação (e conhecimento) ou de humildade mesmo. Afinal, como ensina Aristóteles, “verdade conhecida é verdade obedecida”, contudo, tal qual crianças birrentas, nem todos estão abertos à possibilidade de dar o braço a torcer, de reconhecer humildemente que aquela opinião guardada e repetida anos a fio precise, enfim, ser descartada (desde que, evidentemente, tenha encontrado algo mais próximo da verdade e não somente uma outra opinião mais confortável). Tenho, não sem razão, sérias dúvidas de que esse povo hoje padeça por falta de conhecimento ou por pura soberba mesmo. Acreditem-me! Conheço quem, com capacidade cognitiva excelente, seja capaz de abstrair verdades de situações modestas, saiba refletir/ruminar tais verdades, mas na hora de aplicá-las ao caso concreto, seja por apego ao conforto que seu erro lhe proporcione, seja por não querer dar o braço a torcer, admitindo o equívoco e pondo-se a combatê-lo, prefira ludibriar-se com verdades menores que se não são capazes de sobrepor o erro (muitas vezes sequer guardam correlação), ao menos deixa-o escondido ou confuso em meio às milhares de verdadezinhas que são gritadas enquanto uma vista grossa se faz frente ao erro grotesco detectado, até que chegue ao ponto em que sequer se lembrará do próprio erro. Histeria! Embotamento cerebral à vista! E consequente perda da paz (mais cedo ou mais tarde, a conta chega!). 

Falando em paz… sabe aquele lugar em sua mente e em seu coração onde deve (ou deveria) habitar a paz inabalável, inatingível e imutável de Nosso Senhor? Pois então, se nesses corações e mentes você notar algo que não seja essa inconfundível paz, penso que talvez você deva rever suas fontes e refletir bem onde anda pisando. Quem sabe uma análise mais detida no terreno em que constróis sua morada para saber se trata-se de rocha ou de areia… ainda que seja uma areia endurecida e com aparência rochosa (descarte-a)… pois na hora da tempestade de verdade, essa casa e esse terreno serão postos à prova, àquele(a) que não estiver sobre a rocha restará somente a ruína. 

Em miúdos: se uma pessoa te convida a conhecer e a partilhar com ela de alguma realidade, algum grupo, ONG, movimento, associação, equipe, partido… o que seja… e você observa que tanto quem te convida, quanto os demais participantes não são portadores daquela paz de Nosso Senhor, que eu sei e você também sabe muito bem detectar quando a encontra, e, ao invés dela, as pessoas portam aquela visível, ainda que por vezes disfarçável ou desculpável, perturbação da mente e do coração, não obstante as palavras e ideias soarem dóceis e atraentes aos sentidos do convidado... minha dica é: cordialmente agradeça e fuja o quanto puder dessa turma e desse ambiente. A paz de Deus seja vosso árbitro em todas as circunstâncias e círculos sociais. Se por um lado, já escrevi aqui o “antes mal acompanhado do que só”, no sentido de que as diferenças pessoais e os atritos ajudam a nos moldar e edificar, por outro lado, se o exército é grande e capaz de transformá-lo num deles (sem a paz de Nosso Senhor) ao longo desse arriscado convívio e você notou isso logo de cara e, ainda, se você tem a consciência bem formada e uma fé católica bem fundamentada, nem pense duas vezes: “Verdade conhecida é verdade obedecida” (e aqui você conheceu com os sentidos e a intuição que Deus lhe deu)! Pernas para que te quero! Caso não esteja seguro por falta de conhecimento da própria fé, vá estudar direito a sã doutrina para formar um justo juízo a respeito da circunstância que exige de você determinado posicionamento, caso contrário, tornar-se-á presa fácil! Mas… em nenhum caso, essa percepção natural, patente, que lhe salta aos olhos, deve ser descartada a título de se ter encontrado algo “maior” (afinal, nada pode ser maior que o amor de Deus manifestado em Cristo e em sua Santa Igreja, qualquer grupelho menor do que esse todo é… no mínimo e por melhor que aparente, menor do que esse todo, oras!). Deus se nos dá de forma simples. Sua realidade é perceptível aos mais humildes. Não despreze essa humilde e simplória percepção e intuição, pois foi Ele mesmo quem lhe deu. Faça bom uso! Sua capacidade cognitiva devidamente preservada agradecerá! 

Dias atrás assistia a uma aula do professor Olavo de Carvalho em que o referido filósofo afirmara que a doutrina católica é a ciência mais perfeita e mais bem amarrada que existe. Nenhuma ciência, por mais leis que possua, consegue imitar a perfeição dos pontos amarrados ao longo de dois milênios, sem qualquer falha no que tange à fé e à moral, do que a sã doutrina. O professor assim dizia para entrar em uma reflexão a respeito de Kant e das respostas que inúmeros teólogos e autoridades eclesiásticas passaram a dar ao filósofo alemão, ora concordando ora discordando de seus pensamentos, mas, em qualquer caso, deixando meio de lado a grandeza de sua própria doutrina para perderem-se em ninharias kantianas. Ora, sem que o Olavo o dissesse, raciocinei que, então, o último doutor da Igreja anterior a Immanuel Kant, necessariamente seria aquele que, de posse de todo o arsenal de conhecimento e espiritualidade acumulados em quase dois milênios e, ainda, alheio a tal filósofo, teria respostas mais precisas para os rumos de nossos dias. Através de tal reflexão/ruminação pessoal daquela aula, pesquisei e concluí que justamente o doutor da Igreja em questão é ninguém menos que Santo Afonso Maria de Ligório, doutor em teologia moral, cuja obra magna era exatamente aquela intitulada “Teologia Moral”, que não tinha, ainda, tradução para o português (a tradução está sendo feita aos poucos – já temos 3 volumes de 5 – pelo Centro Dom Bosco. Meu nome consta como colaborador – tirei onda! Recomendo a todos!). Santo Afonso é precisamente 40 anos mais velho do que Kant. Ou seja, praticamente quando o doutor da Igreja findava sua obra, Kant iniciava a sua (fosse o filósofo germânico mais humilde teria lido o consagrado doutor e falado bem menos asneiras!). 

Você pode estar pensando que o parágrafo acima nada tem a ver com o contexto, certo? Engana-se! Exemplifiquei, com minha própria experiência uma máxima criada por São Paulo e repetida sempre aqui: “Analisai tudo e ficai com o que é bom!” É precisamente nisso que consiste o método de estudos de Hugo de São Vítor, mencionado no início do artigo. É, de fato, a máxima de São Paulo que ele nos ensina a destrinchar em nossas pesquisas. É precisamente isso o que vai acontecer com seu raciocínio se, com coração sincero, você se colocar em busca da verdade, com a capacidade de abstração que Nosso Senhor lhe deu (inteligência), para, em seguida, ruminar tais informações (meditação) e, enfim, com ainda mais humildade, aplicá-las aos casos concretos idênticos aos refletidos, ou mesmo pouco parecidos, mas que indiretamente possam beneficiar-se dos valores e verdades ali apreendidos! Então, na exata proporção em que os que se idiotizam não o notam porque justamente a capacidade de percebê-lo resta mitigada, você notará sua capacidade de raciocínio ampliada, prestes a contemplar a verdade, coisa que o fará se assim a graça daquele que é a Verdade vier em socorro de suas persistentes preces, acompanhadas destes humildes passos! 

Estudando, meditando e obedecendo as verdades descobertas, 
Jeansley de Sousa

2 comentários:

  1. Perfeito, muito bom mesmo! Essa parte esta certa mesmo?: "O professor assim dizia para entrar em uma reflexão a respeito de Kant e das respostas que a Igreja passou a dar ao filósofo alemão, ora concordando ora discordando de seus pensamentos, mas, em qualquer caso, deixando meio de lado a grandeza de sua própria doutrina para perder-se em ninharias kantianas".

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    1. Essa foi a linha adotada por parte considerável dos teólogos (corrigi o texto substituindo "a Igreja" por "inúmeros teólogos e autoridades eclesiásticas". Valeu pela observação). Evidentemente, a Igreja segue e seguirá infalível em matérias de moral e fé, mas de tempos em tempos, alguns (ou melhor, muitos) teólogos, sacerdotes e mesmo bispos e papas se envolvem, desnecessariamente, em embates ou adequações desse tipo. Muitos, em vez de preservar a pureza e grandeza da rica doutrina que a Igreja possui, acabam por aderir a filosofias/teologias incompatíveis com nossa fé (é precisamente assim que surgem as heresias que, mais cedo ou mais tarde, acabam sendo desmascaradas).

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