Grande problema na espiritualidade católica dos dias atuais reside na incompreensão da criação do Céu e da Terra. Não quero aqui dizer que seja possível compreender ou enxergar a origem do universo de forma precisa, como arriscam presunçosamente alguns cientistas, sobretudo os que defendem uma mera teoria (da Evolução) como se fosse lei; mas também não precisa ser tão retardado quanto alguns leigos que nunca se interessam pelas próprias origens, vivendo como se sabedoria fosse a filosofia de vida do Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar...”
Via de regra quando
nós, católicos, pensamos em Céu, no Céu criado por Deus
juntamente com a terra, conforme nos narra o livro de Gênesis,
imaginamos apenas o que vemos nos céus que cruzam nossos horizontes,
isto é, nuvens, estrelas, sol, lua… há quem leve a sério a
lorota de que quando chove é porque São Pedro ligou a torneira
(afinal, ele é o porteiro e, pelo visto, também o encanador!).
Existem, em contrapartida, aqueles que afirmam que Céu não é
lugar, mas estado de espírito, portanto, não há qualquer realidade
material por lá (aliás, não existe um “lá”, pois “lá”
seria um lugar). Em que pese tal afirmação retirar de nossas mentes
o “céu de nuvenzinhas, cheia de gente lerda a pisá-las, rodeada
de anjinhos gorduchos da bochecha rosada”, nossa mente não é
capaz de imaginar um nada material, absolutamente invisível, que
seja Céu simplesmente pela realidade espiritual.
Santo Agostinho nos
ensina que o Céu (por ele chamado em seu livro Confissões: Céu dos
céus) é o lugar de habitação de Deus e dos anjos, lugar criado
juntamente com a terra. Esta mesma terra em que vivemos e que, quando
criada era informe e vazia, antes do início dos tempos. A partir de
então, o Gênesis segue narrando de forma alegórica porém
detalhada, a criação que se seguiu aqui no universo material cognoscível, deixando de lado
as criações do Céu. Neste contexto, povoemos o Céu com outras
informações de que dispomos agora: a Igreja afirma, dogmaticamente,
que lá estão presentes de corpo e alma Nosso Senhor Jesus Cristo e
Nossa Senhora. Os demais: anjos (que, por natureza, são puro
espírito) e santos, cujos corpos permanecem nessa terra, só estão
presentes no céu espiritualmente, no entanto, após o julgamento
final, ressuscitarão também na carne e habitarão o Céu tal qual
Jesus e Maria, ou seja, de corpo e alma! Haverá lugar para uma
multidão, pois Nosso Senhor garantiu que na casa de Seu Pai existem
muitas moradas! Deu inclusive a maior dica que um investidor poderia
dar: em vez de juntar tesouros por aqui, juntá-los por lá, onde a
traça e a ferrugem não podem destruir.
Feita toda essa
análise, voltemos a imaginar o Céu como um lugar. Ou seja, rodamos,
rodamos e paramos no mesmo ponto… só que agora é diferente: não
se trata do céu de nuvens, nem de São Pedro encanador, os anjos
também deram uma espichada, são grandes e fortes (isto quando por
bondade divina, se deixam visualizar). Trata-se, portanto, de um
lugar, porém, de “outro lugar” tanto diferente de nossa
habitação, quanto diferente de nossa imaginação! Os olhos não
viram e os ouvidos jamais ouviram! Inacessível humanamente falando!
Mas não podemos negar tratar-se de um lugar, afinal, nele existe
matéria (os corpos glorificados de Jesus, Maria e, futuramente, os
de todos os santos). O próprio Cristo nos garante a existência de
seu Reino por lá, afirmando, categoricamente, que tal Reino não é
deste mundo! Portanto, coragem! Precisamos conquistar este Reino do
Céu com todas as nossas forças, pois este lugar pertence aos
violentos, ou seja, àqueles que, mortificando os próprios sentidos,
orientaram toda a sua vida na busca por este tesouro imperecível.
Confiemos em Jesus Cristo, Sabedoria encarnada, Caminho, Verdade e
Vida, afinal Ele veio de lá e deu seu testemunho de lá. Não
podemos perder nosso foco neste precioso alvo: busquemos o Senhor com
todas as forças mediante a oração, os sacramentos e a penitência
até o fim de nossas jornadas nesta terra.
Tudo bem… eu
sei... imaginar um lugar absolutamente distante dos olhos e que nem
mesmo com toda tecnologia e ciência da terra se possa alcançar é
missão impossível. Lutar com todas as forças, desfazendo-se
inclusive de incontáveis delícias dessa terra, para conquistar este
longínquo Céu parece algo tão abstrato quanto inatingível!
Tentemos, então, facilitar um pouco: quem sabe esse Deus que faz o
Céu ser tudo o que é (pleno, glorioso e eterno), possa estar, Ele
próprio mais perto de nós do que imaginamos? E quem sabe este
caminho tão curto para achá-Lo, ouvi-Lo e nEle permanecer possa ser
ensinado por alguém que tenha feito tal experiência neste mundo?
Na próxima reflexão, Santa Teresa D'Ávila dará umas dicas do que fazer
para encontrá-Lo e já começar, ainda que de forma imperfeita nesta
terra, a encontrar o tesouro e tocar o Céu.
Jeansley de Sousa
Link da parte 2: http://sanctus-domini.blogspot.com.br/2016/02/a-antessala-do-ceu.html
ResponderExcluirLink da parte 3: http://sanctus-domini.blogspot.com.br/2016/02/adentrando-o-castelo.html