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29 de julho de 2019

Amargo, só o café!

Ainda assim pode ser que valha a pena pingar umas duas gotas de adoçante…


Começo este artigo da maneira mais sincera, olhando para meu próprio ser. Ainda nos meus primórdios na catequese (final dos anos 90) eu aprendi, refletindo sobre a vida dos santos, que uma característica marcante de todos eles era exatamente a leveza. O não guardar mágoas e rancores. O não cultivar a inveja. A liberdade dos filhos de Deus… Sabe aquela leveza do ser que muitos buscam por meios nada ortodoxos (do exoterismo zen ao budismo), quase sempre, pouco ou nada bem sucedidos? É bem verdade que os santos não possuíam essa leveza de maneira automática ou mágica. Era fruto de um esforço não raro heroico, somado, evidentemente, à graça Divina, sobretudo, à força dos sacramentos!

Ao longo de minhas quase quatro décadas de existência (novão ainda! Nem vem...) pude notar em mim mesmo a facilidade com que o oposto se dá, isto é: como facilmente posso me tornar pesado em vez de leve. A mesma lógica que vale para o corpo, cujo metabolismo com a idade desacelera e o peso que, com sacrifício, se perde em um mês, se ganha em dobro em um dia, vale para a alma. E tenho certeza que você também é capaz de notar isso. Sabe aquela pessoa ranzinza, mau humorada e resmungona que você procura evitar (e eu nem tiro sua razão por isso!)? Não se espante! Ela pode ser você amanhã! O caminho para ela chegar a ser como é, e sequer notar que está sendo um fardo para si mesma e para todos que a cercam, é bem mais curto, óbvio e fácil do que você imagina e, talvez, você já o esteja trilhando sem notar.

Por incrível que pareça, alguns pesos na alma passamos a carregar a partir do trato com os nossos próximos mais próximos: marido e esposa, pais e filhos, patrão e empregado. O que acontece é que algumas vezes na sua vida você está indignado com algum desses mais próximos, porque ele(a) pisou na bola contigo e, com razão, você esbraveja, briga… o pau quebra mesmo! Como diria um amigo meu: “É nooooormaaal”. Sim! Nisso não há problema! O problema se dá quando você, de maneira calculada e manipuladora, resolve “dar um gela”, tratar alguém mal, mesmo que seu ser esteja naturalmente inclinado a fazer o inverso, só para dar uma lição premeditada. Daí você começa a calcular o quanto você deve manifestar se gostou ou não de determinada atitude e, a depender de seus cálculos, atitudes geniais, brilhantes, virtuosas e dignas de aplauso, ganham um frio e gelado “tô nem aí” ou um “ele fez isso, mas também… com as oportunidades que teve” “ele fez isso e aquilo, mas em compensação peca naquilo outro”… De outro lado, pessoas não tão boas, agindo de maneira não tão corretas, ganham o seu elogio público, apenas porque, com isso, você quer mostrar a um terceiro, geralmente mais virtuoso do que você, que o preteriu em detrimento a alguém ou a algum feito bem menos significativo, só porque você analisou que ele precisasse de uma lição sua! Quer uma dica? Guarde as lições apenas para coisas graves, daquelas que perdem a alma mesmo (adultério, assassinato, aborto, ateísmo militante, desonestidade e injustiças graves…). Em casos sérios assim, por amor a uma ou muitas almas que possam se perder, seja firme. Jamais omisso! No mais, na maioria das coisas da vida, cotidianas e banais, seja leve! Pois com esse modo xarope ativado para fins de correções alheias, pontuais e bobas, a vida passa a ser um jogo completamente manipulado, falso e injusto! Não apenas você desequilibra a balança das pessoas do seu mundo, como você mesma passa a ser uma pessoa desequilibrada que, dentro de mais dez ou vinte anos, se tornará a velha ranzinza da família, do bairro, da cidade… Será insuportável e sequer o notará, pois o seu agir calculado, manipulado e carregado de mágoas e traumas será tão natural quanto um recém-nascido a encher as fraldas, daquelas em que todos notam o mau cheiro, menos o pequeno artista!

Não tente se esconder! Eu sei que você sabe a hora em que deveria conter a língua e não o faz, a hora em que deveria não resmungar, mas prefere o vitimismo que já é parte da sua cultura. A hora em que deveria elogiar ou agradecer, com sinceridade e sem frescura, a alguém e você se omite. Eu sei que tem momentos que você não está a fim de brigar com sua esposa ou seu filho (e sequer seria necessário, no momento, pois não há nada grave que o justifique), mas para manter aquela “ordem” que só existe na sua cabeça, você o faz… só pra não perder o costume! Cuidado, você pode estar perdendo a sua percepção mais natural das coisas e se tornando, essencialmente, aquilo que mais detesta nas pessoas: um ser ingrato e amargo, incapaz de apreciar retamente todas as coisas. Incapaz de ver o bem sem antes encher-se de ponderações e contraditórios que acabem por torná-lo mal! Um cego, o pior deles, que, malucamente, se julga sábio! Portanto, mangas arregaçadas para o serviço e com um sorriso no rosto, sem prejuízo de, se necessário, quebrar o pau, desde que, como as crianças quando brigam, tudo volte ao normal em pouco tempo… e a tal leveza que esse povo busca em tudo quanto é canto, você encontrará dentro de si, aí nesse lugar escondido onde, com razão e tese de doutorado, afirmara Santa Teresa de Ávila: “Deus habita nossa alma tal qual habita o Céu.” Controle essa amargura e implicância (ou seria inveja?) estúpidas e dê o merecido espaço ao sorriso, gratidão e elogio sincero que brota dEle, bem aí dentro desse recanto mais escondido da sua alma e, enfim, seja leve.

Na paz de Jesus e no amor de Maria,
Jeansley de Sousa


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