Sobre a Amizade

Bem, hoje escreverei a respeito de umas das mais belas manifestações do amor e que está tão deteriorada nestes tempos modernos, onde encontramos relações cada vez mais vazias e interesseiras.  Inicialmente identificaremos as diversas formas do amor, entre elas temos o Eros, o amor entre o homem e a mulher. O amor afetivo, que acontece entre os pais e os filhos e que ocorre, também, entre os filhos e os pais. Todavia, temos outro tipo de manifestação menos exaltada que é a Amizade. Não é necessário ser um especialista em literatura para notar que os dois primeiros são tratados de maneira eufórica, enquanto sobre a amizade pouco se fala. Quem não conhece as histórias de Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda, sem falar dos mais moderninhos como Jack e Rose e Peter Parker e Mary Jane? Estas histórias são sempre recheadas de exagero para exaltar o Eros. Sobre o amor paterno e materno também possuímos muitos exemplares de exaltação. E sobre a amizade alguém já a viu ser exaltada na literatura mundial?  Quem conhece um filme baseado nesta manifestação do amor? Conheço a amizade de Davi e Jônatas, porém, os filmes sobre o Rei Davi exaltam mais sua bravura contra Golias e seu amor “Eros” por Betsabéia, Jônatas é praticamente um desconhecido para quem conhece Davi pela película.

Sabemos dá importância familiar na formação e nos cuidados do homem. Sabemos, ainda, que sem o Eros não há possibilidade de criação. Contudo, o homem precisa de algo mais, além de família ou da mulher. Algo que não se encontra dentro de uma relação de necessidade como o cuidado ou a procriação. O homem precisa de amigos, isso não é uma relação necessária, por isso é uma manifestação tão bela. A amizade é tão bonita e importante que Cristo saúda seus apóstolos dizendo: “Já não vos chamo SERVOS, mas sim, AMIGOS” (João 15,15).Porém, identificá-la não é tarefa das mais fáceis, não posso dizer, por exemplo, que uma pessoa da qual tenho contato anualmente seja meu amigo, pois a amizade exige um compartilhar de pensamentos, dores, alegrias, etc. A amizade surge quando descobrimos que temos algo muito interior em comum com outros. Na estrada da vida nos deparamos com pessoas que compartilham conosco várias coisas: futebol, música, política, mas poucos serão chamados de amigos, pois esse “algo em comum” que compartilham é mais difícil identificar.  

Para o cristão “esse algo comum” separa os amigos dos companheiros. O nosso “objetivo comum” deve ser a busca pela felicidade eterna, caso este objetivo não possa ser compartilhado entre os “amigos” a amizade fica prejudicada. Os amigos devem servir de apoio ombro a ombro durante a dura caminhada, enxergando a luz eterna de Cristo. Mas o que fazer, tenho amizades com muitas pessoas que não possuem esta visão? Resposta: Você não terá o apoio necessário que uma pessoa precisa na hora da sua queda ou tentações ou pior, esta “amizade” pode levá-lo a desviar-se da rota, então todo cuidado é pouco neste mundo. Outra coisa: lembremos o básico, um amigo não é aquele que fala coisas agradáveis aos nossos ouvidos, aliás, quase sempre são dos meus amigos que escuto as coisas mais desagradáveis para meu Ego, mas esse é o verdadeiro apoio que necessito neste vale de lágrimas.

Mas o que percebemos hoje é a infantilidade nas relações entre “amigos”, pois se X chama atenção de Y, dizendo que ele está próximo da queda ou já caiu e precisa se levantar-se, Y logo se fecha em seu mundinho, esquecendo do “algo em comum” que os uniu e o maldito res-sentimento aparece, sendo assim, mais cedo ou mais este res-sentimento levará Y a sentir outra vez a raiva que sentiu X quando este o chamou atenção. Neste tipo de relação tão comum na atualidade, os amigos servem apenas para aprovar seus erros, confundindo o apoio na caminhada com aprovação de suas opções sejam elas as mais bizarras possíveis. Se você possui uma amizade deste tipo fuja dela, pois não te servirá de nada.

Por fim, temos que olhar melhor o nosso interior e ver quais são as pessoas que nos ajudam na caminhada rumo à vida eterna e a partir daí selecionar os verdadeiros amigos, aqueles que realmente valem a pena escutar, mais ainda, temos de ter a coragem suficiente para falar àqueles que gostam de nós, mas que pouco ou nada nos ajudam na caminhada: Você não é meu amigo. Você é meu irmão, primo, tio ou qualquer outra coisa, mas não posso compartilhar minha vida contigo, enquanto você não compartilhar da minha busca rumo a Cristo.  Outra coisa importante é nos curar e deixarmos de “re-sentir”, para que, ao lado dos amigos que tanto nos ajudaram nesta vida possamos ver a glória eterna e assim entender o que o profeta enxergou:

“Suas vozes se revezavam e diziam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!” (Isaias 6:3)

  

Josimar Costa é filósofo formado pela UnB e membro do ECC da Igreja Católica